Outro dia eu estava na fila do supermercado quando vi uma cena que me chamou a atenção. No caixa ao lado, uma mãe esperava sua vez com o filho, que devia ter uns quatro anos, sentado no carrinho. Era véspera de feriado e o local estava lotado, e era preciso muita paciência para esperar. Coisa que quem é mãe sabe: uma criança tão pequena não tem, obviamente.

O menininho estava dentro do carrinho, mas tentava mexer nos produtos que ficavam naquelas últimas gôndolas antes de pagarmos a conta. Balas, chocolates, salgadinhos são cuidadosamente dispostos ali justamente por essa razão, porque os lojistas sabem que é a hora da compra por impulso. Claro que a criança tentava pegar uma coisa – e a mãe voltava a colocar no lugar, dizendo que eles não deveriam levar aquilo. A situação se repetiu por algumas vezes enquanto eu estava observando, e eu ainda agradeci a ideia de ter ido ao local sozinha, porque sabia que Catarina estaria dando trabalho naquele momento.

Foi quando eu ouvi uma senhora mais velha, que estava atrás dessa moça, falar em voz alta, como uma provocação mesmo: “esse menino deve ser hiperativo. Nunca vi criança mal educada desse jeito, não fica quieto! Quando meus filhos eram pequenos não tinha dessa não, eu mandava eles pararem uma vez só e pronto”. Ai, ai, “adoro” essa vontade que as pessoas têm de comparar as coisas.

Imagem: 123RF

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A mãe ouviu o comentário – vi na cara dela que havia ficado chateada. Pediu mais uma vez para o filho não pegar mais nada do supermercado e se sentiu aliviada quando finalmente foi chamada para passar suas compras.

Mas por que eu me lembrei dessa história? Porque não é a primeira vez que vejo a palavra HIPERATIVO sendo usada da forma errada para descrever a geração dos nossos filhos. Hoje em dia criança que não fica quieta, que não vai bem na escola, que levanta durante as refeições, que quer brincar o dia todo é hiperativa. E tem mais: se for menino, as pessoas ainda dão um certo desconto (afinal, “moleque é assim mesmo, gosta de ficar chutando tudo por aí”). Mas se for menina e não “sentar direito”, não for meiga e delicada… Ah, é hiperativa mesmo!

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Sinceramente: eu detesto o uso desse termo de forma tão mal feita. Existe criança hiperativa – ou seja, com TDHA (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade)? Existe! Mas nem de longe é a maior parte da crianças que conheço (aliás, acho que tem muito pequenininho aí recebendo o diagnóstico errado).

O que talvez as pessoas estejam deixando de levar em conta, quando fazem um comentário como esse, é que a geração dos nossos filhos é, sim, muito “ligada”. Eles já nasceram em meio à internet, à disponibilidade quase que imediata de informações. Eles estão acostumados a fazer mil coisas ao mesmo tempo – hoje um livro é digital é também interativo, bem diferente do formato de papel com que nós crescemos.

Essa geração de crianças que está aí também conta com uma grande porcentagem de filhos únicos. E eu falo por experiência própria: filho único dá trabalho dobrado, depois de uma certa idade! Na minha infância, minha mãe não precisava sentar e brincar com as três filhas – nós brincávamos entre nós, crianças, e ficávamos assim por horas (até que alguma discussão acontecia, e aí, sim, meu pais tinham que intervir). Agora, com Catarina, eu acabo sendo a companhia durante boa parte do dia, e isso dá uma canseira enorme! Mas daí a dizer que ela é hiperativa, vai uma grande diferença!

Outro ponto que eu gostaria de destacar: em função do aumento da violência, principalmente nas grandes cidades, nossos filhos não brincam ao ar livre. Quer ter a sensação de que uma criança é “hiperativa”? Deixe-a dentro de casa por uma semana! Você e ela começam a ficar doidos! Pelo menos por aqui eu vejo muita diferença entre o verão (em que Cacá fica brincando no parquinho, fora de casa ) e o inverno (em que passamos o tempo todo enclausuradas, fugindo do frio). Aí tem gente que vai dizer: se fosse assim, nos países europeus só ia ter criança inquieta. Pois é, só que manter criança dentro de casa quando está friozinho é coisa daqui – lá a criança põe um casacão e vai brincar na neve.

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Enfim, quando você observa essa geração e tenta entender a sua realidade fica bem mais fácil enxergar que não temos nas mãos uma geração de hiperativos. Que aquela criança que não fica quieta na classe (na grande maioria das vezes) não é hiperativa – até porque isso sempre existiu, inclusive quando éramos pequenos (só que naquela época a exigência de um rendimento excepcional da turma – que fica mais difícil com alunos agitados – não acontecia). Fica fácil notar que um filho que pede atenção o tempo todo só quer companhia.

Dê trabalho para essa criança. Peça a ajuda dela para fazer um bolo, deixe que ela faça a própria cama, que escreva a lista do supermercado. Fujam para o parque ou para a praia no fim de semana para que ela gaste sua energia. Aí, sim, a gente conversa sobre essa tal de hiperatividade.